BLOG

Síndrome do Burnout

A Escola de Saúde Pública de Harvard identificou que a “síndrome do Burnout” em médicos americanos é tão avassaladora que outras duas associações de médicos americanos (a Massachusetts Medical Society e a Massachusetts Health and Hopsital Association) declararam que esse fenômeno é uma crise na saúde pública.

Esse esgotamento é gravíssimo em todos os indivíduos e, neste caso específico, resulta em erros por parte dos médicos e na falta de segurança dos pacientes. Eles preveem que até 2025, faltarão quase 90.000 médicos, muitos desses postos vagos se darão aos efeitos do “burnout”, implicando em redução de serviços médicos bem como no aumento de custos para reposição desse contingente.

Tudo isso para explicar um fenômeno mais abrangente na nossa cultura: a super valoriação do excesso de atividades. É comum vermos as pessoas num certo dilema: ao mesmo tempo que se queixam da sobrecarga, sentem-se valorizados e importantes quando percebem que desempenham muitos papéis.

Infelizmente, no nosso mundo atual somos avaliados pela “produtividade”. E é infrequente vermos pessoas que se sentem desconfortáveis com períodos de lazer ou com menos atribuições. Nem se reconhecem quando não estão pulando de um compromisso para o outro. Sentem-se inúteis ou como se não tivessem direito a fazer algo que não tem uma utilidade mensurável.

Atualmente a complexidade da nossa vida é muito superior à que já houve no passado. Se analisarmos as responsabilidades de nossos avós, por exemplo, veremos que eles tinham um número menor de atividades, responsabilidades mais simples e objetivos mais modestos, em geral.

Tantos compromissos e demandas comprometem nossa saúde de muitas formas. Um dos nossos atributos mais importantes impactados é a atenção em suas diversas formas, outro é a capacidade de relaxamento que está relacionado ao primeiro.

Acabamos compartilhando demais nossa atenção. Ela literalmente pula de assunto ao outro, absorvendo apenas uma fração das informações disponíveis no ambiente. Esse treino intensivo faz com que tenhamos dificuldade de estar no momento presente e nos perdemos entre rever o passado e tentar prever e planejar o futuro. Isso potencializa nossa ansiedade.

A perda da habilidade de relaxar tem impacto no sono que é função reparatório essencial. Muitas pessoas se dedicam por longos períodos a atividades de alta complexidade cognitiva e ao chegar em casa, onde supostamente poderiam relaxar, se envolvem em uma série de outros deveres: cuidados com a casa e com os filhos, ou até em uma extensão do trabalho. Sempre na busca pela produtividade ou utilidade. O lazer é visto como desnecessário ou de menor valor.

Também deixamos de lidar com o tédio. Passamos tanto tempo do nosso dia sendo estimulados que é difícil lidar com a ausência de estímulos, com o sossego, com o silêncio. Nem sabemos mais apreciar essas coisas. O excesso de estímulo esgota nosso cérebro, nos confunde. E vivenciar o tédio pode ser uma maneira de desenvolver a criatividade, ter insights, que são processos mentais naturais e necessários para nossa qualidade de vida.

Um dos comprometimentos mais sérios é a dificuldade de se auto observar: nossos pensamentos e sentimentos (nossos medos; nossas preocupações, nossas necessidades); nossas sensações físicas (fome; cansaço, limites). Ficamos totalmente desconectados dos nossos desejos e excessivamente ligados às nossas obrigações. Acabamos ficando “surdos” para essa voz interior que é um importante termômetro do que acontece em nossa vida.

E sem essa bússola estar bem calibrada para saber que rota é melhor seguir, acabamos indo sempre em frente e paramos só quando de fato adoecemos e nos deprimimos porque quem não atende às suas necessidades com o tempo fica doente no amplo sentido do termo.

O excesso de ocupação também é uma estratégia de fuga. Quando nos ocupamos demais, não temos tempo de entrar em contato com o que vai mal. Jogamos para debaixo do tapete as relações familiares ou amorosas de baixa qualidade; a falta de motivação; o descontentamento com o trabalho; a falta de dinheiro; a negligência com a própria saúde. No entanto, como uma bola afundada na piscina, uma hora ela sobe e com muita força. Normalmente vem com a forma de uma depressão e ansiedade.

Precisamos reconhecer que a vida é feita de muitas coisas. O trabalho e a produtividade são só parte da vida. Temos que ter tempo de descanso, lazer, ócio, para atividades que não envolvam responsabilidade ou desempenho. E nossa importância não pode ser medida com apenas um parâmetro. Aliás, somos muito maiores do que nosso desempenho! Somos humanos e precisamos entender quais são as coisas essenciais nessa condição.

Psicóloga Angela Lechuga

CRP: 01/15330

Centro Médico Lúcio Costa Bloco 2 sala 150

MAIS ARTIGOS